sábado, 11 de abril de 2015

Os irmãos

 Bem sei que ainda não percebes nada dos graus de parentesco e que daqui a uns anos tudo isto te fará certamente uma grande confusão, mas o tio não é só teu tio, na verdade o teu tio é também meu irmão.
Apesar de estarmos longe e de falarmos menos hoje do que há uns tempos atrás, não há dia que não pense nele. Recordo os valentes pontapés que lhe dei nos tornozelos, deveria ter os meus 6 ou 7 anos e a cada nova provocação lá ía eu ao armário, calçava as botas bicudas e corria casa fora atrás dele....Que saudades tenho eu dos dias passados a cantar Mata-ratos, praguejando asneiras sem sequer lhes saber o significado, enquanto o pré-adolescente do teu tio incentivava com agrado a minha  deterioração musical. Mais tarde, já com os meus 12 anos, não havia almoço que não acabasse com ele a testar todos os meus limites e eu a despejar-lhe copos de água em cima da cabeça. Mas a nossa relação não foi só marcada por esta dose de loucura, com uma diferença de 4 anos e meio ele foi também o irmão protector, a referência, o conselheiro, foi o orientador nos trabalhos na faculdade, o taxista nas primeiras saídas a noite, o responsável pelo meu primeiro contacto com o whisky quando nas manhãs de domingo me enfiava na cama dele e ficava embriagada com o cheiro a álcool daquele quarto.
Se há algo que te quero mesmo dar nesta vida é um irmão (ou dois). Nem o susto pelo qual passámos me fez por um único momento pensar que não te daría aquilo que é o melhor presente que podemos dar a um filho, o amor por um irmão. Mas para já não te metas com ideias, vai partilhando os teus brinquedos e as tuas bolachas com a cartuxa, ela agradece :)

segunda-feira, 23 de março de 2015

Obrigado

Um ano depois da tua alta e tal como prometido, fomos agradecer a quem cuidou de ti no teu internamento. Levámos um bolo, os olhos carregado de lágrimas e estas palavras escritas num postal.

No dia 21 de Março de 2014 e após 31 dias na neonatologia da MAC, o António foi para casa. A partir desse dia ele era finalmente nosso a tempo inteiro. Antes, ele foi também um pouco vosso, de todos os enfermeiros, médicos e auxiliares que directa ou indirectamente cuidaram dele e tornaram o dia da alta possível. Desejámos muito que chegasse o nosso dia de subir com o ovo ao 1º andar, mas ao contrário de muitos pais que legitimamente querem esquecer este caminho difícil, nós queremos celebrar junto de quem o tornou possível.
Muito obrigado não só por tratarem do nosso filho mas também por todo o colo e carinho que deram ao António enquanto estávamos em casa a tentar descansar. Muito obrigado pelas palavras de alento, por nos explicarem numa linguagem simples a evolução do António e para que serviam todas aquelas máquinas e medicamentos. Obrigado por todos os conselhos e dicas tão úteis e principalmente por nos fazerem sentir que naqueles 31 dias a neonatologia da maternidade era a nossa segunda casa.
Obrigado.
Rita. Bruno. António




quinta-feira, 19 de março de 2015

Os melhores do mundo

Até para nascer é preciso ter sorte e nós somos uns filhos do pai cheios de sorte.
Parabéns pai Rui, parabéns pai Bruno. Hoje o dia é vosso.

O dia do teu baptizado


Antes de nasceres não tínhamos intenção de te baptizar, sempre achámos que deverias decidir o teu caminho quando tivesses consciência das tuas escolhas. Quem nos conhece sabe que sempre pensámos desta forma e se me perguntassem há dois anos atrás eu perentoriamente afirmaria que só assim faria sentido educar-te.  Mas a vida prega-nos algumas partidas e com tudo o que passámos a ideia de celebrar o teu baptismo com os que partilharam os momentos mais difíceis passou a fazer todo o sentido.
Foi uma festa pequena, só para a família mais chegada. Escolhemos a tão especial igreja de Santo António, tivemos o privilegio de ter o Sr. Padre amigo da família a celebrar o baptismo e contámos com a ajuda do fantástico coro dos pequenos cantores da Pontinha para tornar o momento ainda mais emocionante (que o diga o chorão do teu tio Tiago).
O pai fez os missais com todo o empenho e carinho, os padrinhos cumpriram os seu importante papel e a talentosa Inês -after click- tirou estas fotos maravilhosas que para sempre nos farão recordar a história deste bonito dia.  E tu, tu estavas como sempre. Lindo, bem disposto, sempre a saltar de colo em colo e a oferecer sorrisos a quem se metesse contigo. Foi uma festa inesquecível de agradecimento à vida e de celebração do amor.








terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Um ano de alegria


Parece que foi ontem que te beijei pela primeira vez, pouco depois das 0h46 do dia 20 de Fevereiro. Passou um ano António. Lembro-me de perguntar à enfermeira se podias vir para o meu peito, tinha medo que a tua fragilidade não permitisse que te tocasse. Meteram-te nos meus braços e ali ficaste não mais do que 10 segundos, tempo suficiente para que repetisse algumas vezes "meu filho, meu filho", acho que precisava de o dizer várias vezes para saber que era real, que tinha um filho nos braços, que já era mãe.

Um ano depois és um menino feliz, agradecido pela vida. Fazes algumas (poucas) birras e raramente choras. Adoras beijinhos e todos os dias fazes uma gracinha nova. Comes manga e ananás como um miúdo grande, adoras imitar o coelho e o índio, fazes os teus disparates e vibras com as lambidelas que a Cartuxa te dá.

Neste teu primeiro aniversário houve festarola todo o fim-de-semana. No teu dia de anos fomos os três ao Oceanário e à noite apagámos as velas com os avós. No sábado estavas doentinho e ficámos na ronha, com algum contorcionismo lá nos conseguimos aninhar no sofá agora demasiado pequeno para os três e quase delirámos com tanto baby tv. No domingo tiveste direito a uma festa. A mais bonita de sempre, totalmente organizada pela avó Cristina que decorou a mesa, pensou na ementa, fez doces e salgados, montou e desmontou tudo. Estava perfeito e cada detalhe feito com tanto amor.  Outras pessoas ajudaram a tornar esta festa inesquecível, o avô Rui que ajudou na logística da festa, a avó Alice que contribuiu para nos engordar mais um bocadinho, a tia Diana que tratou de toda a parte gráfica e o primo Tozé que tirou estas fotografias maravilhosas. Foi uma festa para celebrar a vida, para celebrar o primeiro ano de um menino que tal como o avô Rui dizia há coisa de um ano atrás na entrada da neonatologia, um "menino que ainda nos vai dar a todos muitas alegrias". Não podia estar mais certo.













segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Mães trocadas, filhos quase traumatizados


Afinal não é por mim que chamas quando dizes tété. Afinal a tété é a chucha e agora andas sempre com uma na boca e outra na mão e trocas entre uma e outra a uma velocidade estonteante. Anda uma mãe o dia inteiro o a repetir "mamã", "diz mamã", "chama a mamã" para depois ser trocada por um bocado de borracha.
É certo que a avó diz que chamas por mim quando dizes nanã, mas não me vou esquecer que a tété surgiu antes.
Nanãs e Tétés à parte, a única palavra que dizes e que para nós adultos é totalmente clara é o não. Se calhar não é assim tão obvio, é mais nan e abanas a cabeça ao mesmo tempo. Acho que te estou a traumatizar mas alguém tem de te dizer que não podes meter os dedo na tomadas, tentar tirar a chave da porta, tocar na guitarra do pai ou trepar os móveis. Parece uma casa de gente doida, o dia inteiro em negação. Nós com o não sempre à mão e tu, qual papagaio, repetes a interjeição e abanas a cabeça a sorrir. Sempre a sorrir, porque um simples não tem muito que se esforçar para conseguir levar a melhor de ti.



segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

A tua primeira casa

Já comecei e deixei a meio este post inúmeras vezes. Não é fácil escrever sobre aquela que foi a tua primeira casa. Foi lá que viveste até ao dia 21 de Março, o dia do início da primavera, o dia da tua alta. Lembro-me bem desse dia, chovia a potes e aqueles breves minutos à espera que o pai parasse o carro à entrada das urgências pareciam uma eternidade. Já no carro, sentei-me ao teu lado no banco de trás, agarrada aos teus pequenos dedos olhava para ti e sentia-me a mãe mais feliz e mais insegura do mundo.

Gostaria que entendesses o que sinto cada vez que vamos à maternidade, é uma mistura de gratidão e angústia, um nó na garganta e uma sensação estranha de conforto, a vontade de seguir em frente mas ter medo de esquecer. Quando passo por lá à noite tudo isto torna-se ainda mais intenso...As noites, as noites eram o pior António. Saíamos para comer qualquer coisa e na maioria das vezes ainda voltávamos às 10 ou 11 da noite para te desejar boa noite. Estacionávamos nas ruas já vazias, completamente exaustos mas sempre a passo acelerado, cumprimentávamos o segurança que já sabia de cor o número do teu berço e seguíamos pelos corredores fora, eu com o chá de funcho na mão, o pai carregado com esterilizadores, bombas de leite ou a ceia preparadas pelas avós. Desinfetávamos as mãos, deixávamos os casacos no cacifo e sentávamo-nos finalmente ao teu lado. Na sala, agora escura e quase silenciosa - não fosse o barulho constante das máquinas e do rádio propositadamente lá colocado durante a noite - ficávamos nós os três e os outros bebés. Aproveitávamos essas horas calmas para falar com as enfermeiras sobre a tua evolução e tirávamos dúvidas sobre como cuidar de um bebé tão pequeno em casa. Saímos de lá com uma boa preparação, aprendemos mais naquelas noites do que em todos os livros e cursos de preparação para o parto juntos.

Às enfermeiras ganhámos um carinho especial, elas não se limitavam a tratar de ti, elas cuidavam de ti, davam-te colo, falavam contigo...Esméria, Ângela, Manuela, Rute, Tânia, Ana Lúcia, Sílvia, estes serão sem dúvida alguns dos nomes cujos rostos jamais esqueceremos.