terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Um ano de alegria


Parece que foi ontem que te beijei pela primeira vez, pouco depois das 0h46 do dia 20 de Fevereiro. Passou um ano António. Lembro-me de perguntar à enfermeira se podias vir para o meu peito, tinha medo que a tua fragilidade não permitisse que te tocasse. Meteram-te nos meus braços e ali ficaste não mais do que 10 segundos, tempo suficiente para que repetisse algumas vezes "meu filho, meu filho", acho que precisava de o dizer várias vezes para saber que era real, que tinha um filho nos braços, que já era mãe.

Um ano depois és um menino feliz, agradecido pela vida. Fazes algumas (poucas) birras e raramente choras. Adoras beijinhos e todos os dias fazes uma gracinha nova. Comes manga e ananás como um miúdo grande, adoras imitar o coelho e o índio, fazes os teus disparates e vibras com as lambidelas que a Cartuxa te dá.

Neste teu primeiro aniversário houve festarola todo o fim-de-semana. No teu dia de anos fomos os três ao Oceanário e à noite apagámos as velas com os avós. No sábado estavas doentinho e ficámos na ronha, com algum contorcionismo lá nos conseguimos aninhar no sofá agora demasiado pequeno para os três e quase delirámos com tanto baby tv. No domingo tiveste direito a uma festa. A mais bonita de sempre, totalmente organizada pela avó Cristina que decorou a mesa, pensou na ementa, fez doces e salgados, montou e desmontou tudo. Estava perfeito e cada detalhe feito com tanto amor.  Outras pessoas ajudaram a tornar esta festa inesquecível, o avô Rui que ajudou na logística da festa, a avó Alice que contribuiu para nos engordar mais um bocadinho, a tia Diana que tratou de toda a parte gráfica e o primo Tozé que tirou estas fotografias maravilhosas. Foi uma festa para celebrar a vida, para celebrar o primeiro ano de um menino que tal como o avô Rui dizia há coisa de um ano atrás na entrada da neonatologia, um "menino que ainda nos vai dar a todos muitas alegrias". Não podia estar mais certo.













segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Mães trocadas, filhos quase traumatizados


Afinal não é por mim que chamas quando dizes tété. Afinal a tété é a chucha e agora andas sempre com uma na boca e outra na mão e trocas entre uma e outra a uma velocidade estonteante. Anda uma mãe o dia inteiro o a repetir "mamã", "diz mamã", "chama a mamã" para depois ser trocada por um bocado de borracha.
É certo que a avó diz que chamas por mim quando dizes nanã, mas não me vou esquecer que a tété surgiu antes.
Nanãs e Tétés à parte, a única palavra que dizes e que para nós adultos é totalmente clara é o não. Se calhar não é assim tão obvio, é mais nan e abanas a cabeça ao mesmo tempo. Acho que te estou a traumatizar mas alguém tem de te dizer que não podes meter os dedo na tomadas, tentar tirar a chave da porta, tocar na guitarra do pai ou trepar os móveis. Parece uma casa de gente doida, o dia inteiro em negação. Nós com o não sempre à mão e tu, qual papagaio, repetes a interjeição e abanas a cabeça a sorrir. Sempre a sorrir, porque um simples não tem muito que se esforçar para conseguir levar a melhor de ti.



segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

A tua primeira casa

Já comecei e deixei a meio este post inúmeras vezes. Não é fácil escrever sobre aquela que foi a tua primeira casa. Foi lá que viveste até ao dia 21 de Março, o dia do início da primavera, o dia da tua alta. Lembro-me bem desse dia, chovia a potes e aqueles breves minutos à espera que o pai parasse o carro à entrada das urgências pareciam uma eternidade. Já no carro, sentei-me ao teu lado no banco de trás, agarrada aos teus pequenos dedos olhava para ti e sentia-me a mãe mais feliz e mais insegura do mundo.

Gostaria que entendesses o que sinto cada vez que vamos à maternidade, é uma mistura de gratidão e angústia, um nó na garganta e uma sensação estranha de conforto, a vontade de seguir em frente mas ter medo de esquecer. Quando passo por lá à noite tudo isto torna-se ainda mais intenso...As noites, as noites eram o pior António. Saíamos para comer qualquer coisa e na maioria das vezes ainda voltávamos às 10 ou 11 da noite para te desejar boa noite. Estacionávamos nas ruas já vazias, completamente exaustos mas sempre a passo acelerado, cumprimentávamos o segurança que já sabia de cor o número do teu berço e seguíamos pelos corredores fora, eu com o chá de funcho na mão, o pai carregado com esterilizadores, bombas de leite ou a ceia preparadas pelas avós. Desinfetávamos as mãos, deixávamos os casacos no cacifo e sentávamo-nos finalmente ao teu lado. Na sala, agora escura e quase silenciosa - não fosse o barulho constante das máquinas e do rádio propositadamente lá colocado durante a noite - ficávamos nós os três e os outros bebés. Aproveitávamos essas horas calmas para falar com as enfermeiras sobre a tua evolução e tirávamos dúvidas sobre como cuidar de um bebé tão pequeno em casa. Saímos de lá com uma boa preparação, aprendemos mais naquelas noites do que em todos os livros e cursos de preparação para o parto juntos.

Às enfermeiras ganhámos um carinho especial, elas não se limitavam a tratar de ti, elas cuidavam de ti, davam-te colo, falavam contigo...Esméria, Ângela, Manuela, Rute, Tânia, Ana Lúcia, Sílvia, estes serão sem dúvida alguns dos nomes cujos rostos jamais esqueceremos.

Em repeat

E já que falamos de música, esta é uma das favoritas da mãe para os meninos pequeninos.



Fui obrigada a publicar a favorita do pai e a que mais vezes te canta...Sem comentários.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

A música

A tua relação com a música começou ainda estavas na minha barriga. Desde as primeiras semanas que eu e o pai cantávamos todos os dias a mesma música, já deitados e agarrados à barriga da mãe cantarolávamos repetidamente a música do barquinho. Lemos em algum lado que se ouvíssemos todos os dias uma determinada música esse poderia ser uma bengala perfeita na hora de te acalmar e a verdade é que ainda hoje esta é uma das músicas favoritas na hora de te adormecer.

Durante a tua curta estadia na minha barriga foste também a dois concertos, Sérgio Godinho e The National, dois concertos inesquecíveis, duas vozes que ouvimos tantas e tantas vezes cá por casa. The National e Bon Iver foram provavelmente os músicos que mais ouviste no período da minha licença, um pouco depressivo é verdade mas tu não te queixavas, eu agarrava na tua pequena mão, tu encostavas a cabeça no meu peito e dançávamos pela casa todas as manhãs.

No mês que estiveste internado eu e o pai cantávamos muito, primeiro para a tua incubadora e depois para o teu berço, cantávamos não só a musica do barquinho mas também a mais bonita canção de embalar de sempre, a do grande Zeca Afonso. Lembro-me de um dia ouvir outra voz que não a do pai a cantar esta música, era a mãe da Maria que cantava. Ainda hoje, sempre que oiço esta música é impossível não me recordar daquela mãe que tal como nós cantava, como se por momentos as outras 8 ou 9 crianças, os outros pais, mães, enfermeiros e inúmeros alarmes, por momentos nada disso existisse...

No mês passado inscrevemos-te na Academia de Amadores de Música. Não penses que aquilo não é coisa séria António, há sistema de faltas e até avaliações. És o mais novo da tua turma mas portas-te como um crescido. Sempre atento, adoras mexer nos tambores e dançar ao nosso colo enquanto as professoras tocam viola, piano e cantam. É o inicio de fim-de-semana perfeito, ter oportunidade de nos divertirmos contigo sabendo que te estamos a dar os estímulos certos. Já te estou a imaginar daqui a uns anos, um morenaço de guitarra às costas, essas pestanas enormes e o teu melhor ar de malandro. Serás o orgulho do pai e a dor de cabeça da mãe certamente.